Hoje decidi que quero um amor azul

flores azuis

Hoje eu decidi que quero um amor azul.
— Mas por que não um amor vermelho?

Ah, minha cara, amores vermelhos são complicadíssimos.
É aquela história de “bater a química”, gerar uma reação e deixar a chama fluir pelos corpos.
Mas isso é bom ou ruim? Bom, oras! Boníssimo, não?
Acontece que vermelho, além da temperatura alta, da intensidade e do desejo à flor da pele, é também sinal de cuidado.
“Perigo! Pare! Preste atenção!”
Tarde demais, esse daí já se consumiu pelo fogo…
Não soube controlar o incêndio e deu nisso.
Acredito que a questão seja primordialmente essa: saber ter o controle.
— E amor azul não tem contato? É frio, silencioso, indiferente…?
Certamente há um engano significativo nessas associações.
Culturalmente nós acabamos por associar cores e simbolismos à sentimentos, ideologias e propósitos.
Mas essa é apenas uma projeção da verdade.
E por ser apenas uma projeção da verdade ela não constitui sua essência.
A verdade em si deve ser sentida em particular e não ditada e pautada como uma imutável obra de arte que leva consigo, através dos séculos, todo o seu significado.
Ora, por que ais de representar a paz com a cor branca?
Branco é luz.
Luz é o que chega até os nossos olhos para que o nosso sentido capte, traduza e gere uma reação.
Penso ser muito mais sensato representar a paz pela cor preta.
— Absurdo! “ouvirei” — Figurar a paz pela mesma cor que as trevas e os abismos mais profundos e demoníacos da face da Terra? “ouvirei, talvez”.
Pois vos digo, caso pensais desta forma, que preto é ausência.
Preto é ausência e neutralidade.
O Universo (em sua maior parte) é escuro, preto.
A madrugada é preta.
E madrugada me lembra paz.
Quiçá até a morte (dita paz eterna) seja preta, mas essa é apenas uma mera especulação.
Então por que a paz não pode ser representada por essa cor? Ora, isso na verdade, como dito antes, é apenas uma definição projetiva da realidade, portanto, não é a realidade.
Já o azul… Ah, o azul! Comove-me pensar em amores azuis.
Azul é a cor do céu, do mar… Do infinito, da imensidão, da calma, do carinho, da ternura…
Eu quero mesmo é um amor azul em minha vida.
Culpe-me pelo que sinto e fique livre para sentir por si mesmo.
Amor vermelho é pra quem sabe lidar com as futuras queimaduras.
Amor vermelho é urgência (pois se esperar, esfria).
E eu não quero urgência.
Eu quero aquele mesmo sentimento que o passarinho tem ao, lá no alto do céu azul, parar de bater as asas para planar por alguns segundos. Um sentimento pleno e azul.
Eu quero um amor azul pra mim.

 

— Douglas Jefferson

[Texto original: Amores Azuis]

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